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terça-feira, 2 de agosto de 2011

Você procriou. Até aí nada demais

O filho dela pega um copo d'água e começa a misturar um monte de coisas. Põe um pouco de mel, terra, detergente, faz uma farra. A mãe olha a cena e diz: nossa, ele é meio cientista, está misturando tudo, com certeza vai ter queda para química. Sim, mas ele também pode se tornar um barman. Eles também fazem misturas, certo?

Poucas coisas são mais chatas do que pais deslumbrados. Daqueles que dizem "o meu filho já está andando" como se o garoto fosse algum tipo de gênio por fazer algo que uma gazela faz 10 minutos depois de nascer. Ou então "fulaninho tem dois anos e já come sozinho", enquanto um labrador com a mesma idade guia um cego pelas movimentadas ruas da cidade. E ainda se alimenta sozinho também, mas bem mais cedo.

OK, você procriou, mas isso não é nenhum tipo de milagre. Fosse algo difícil de fazer, não precisaríamos nos preocupar com alta taxa de natalidade nos países de terceiro mundo. Ser pai ou mãe é algo tão ordinário que não precisa de qualquer licença do governo. Só para comparar, se você quiser ter um trailler de cachorro-quente vai precisar de algum tipo de autorização. Para colocar um filho no mundo não precisa de nada, basta juntar um homem e uma mulher. E eles nem precisam ser inteligentes.

E por falar nisso, não, ele não é um gênio. Ele é saudável e vai penar na vida com decepções, vai ser feliz vez ou outra, como todos nós. Se você der muita sorte ele não vai lhe encher o saco durante a adolescência. E por favor, não projete. Não faça o infeliz aprender três idiomas só porque você queria fazer isso e não fez. A vida é dele, mesmo tendo você brincado de Deus e o criado a partir do nada. E agora que ele vai crescendo, é impossível controlar o processo. Ou você acha que a mãe do Hitler pensou que o filho ia fazer esse estrago todo?

É claro, vai que ele vira o novo Isaac Newton, nunca se sabe. Mas eu ainda acho mais seguro comprar um labrador.

2 comentários:

That weido over there disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tathiane Evelyn disse...

Amei seu texto! Parabéns!

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